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O que radiologistas precisam saber sobre: Hemorragia Subpial em Neonatos

marketing • Nov 16, 2021

Em artigo de revisão recentemente publicado no American Journal of Roentgenology (AJR 2021; 216:1056–1065) um grupo de pesquisadores revisita uma entidade ainda pouco compreendida e reconhecida pela comunidade radiológica: a hemorragia subpial, particularmente na população neonatal, na qual ocorre com maior frequência.

O progresso nos métodos de imagem, com destaque para a RM, permitiu não apenas uma melhor detecção desse subtipo de hemorragia intracraniana – separando-a mais claramente da hemorragia subaracnoide, mas também ajudou a caracterizar melhor o dano cortical que usualmente a acompanha.


Os autores procuraram revisar, a partir de fundamentos lançados por artigos seminais de anatomopatologia, os aspectos anatômicos, fisiopatológicos e de neuroimagem que caracterizam essa lesão peculiar.


Inicialmente, o leitor é esclarecido acerca das relações anatômicas existentes entre as camadas meníngeas e os vasos regionais, dirigindo-lhe a atenção para o espaço subpial, um compartimento potencial entre a pia máter e a camada cortical mais externa (glia limitans), preenchido por colágeno, com o qual os ramos venosos subpiais mantêm contato direto. Hemorragias nesse espaço têm um potencial de comprometer a integridade da interface entre a pia máter e a glia limitans , ensejando alterações citoarquiteturais que podem culminar em disfunção cortical com consequências clinicamente relevantes.


Alguns dos fatores de risco propostos pela literatura incluem: asfixia neonatal, trauma relacionado ao parto, distúrbios de coagulação, variações da pressão intracraniana, compressão de seios venosos etc. O que se acredita é que o insulto primário compromete a integridade da glia limitans ou da glia radial, levando a ruptura de pequenos vasos regionais, com acúmulo sanguíneo no espaço subpial. A consequência presumida dessa coleção hemática contida em um espaço fechado é um estado de limitação à drenagem venosa, que levaria a um infarto cortical/subcortical, um marcador característico desse tipo de lesão.


A hemorragia subpial aparece em exames de imagem como coleção hemática bem delimitada junto à superfície do córtex, o qual se mostra quase sempre rechaçado profundamente. Embora a ultrassonografia e a tomografia computadorizada possam apontar para essa possibilidade diagnóstica, o maior grau de detalhe anatômico habitualmente oferecido pela ressonância magnética permite maior acurácia na avaliação do padrão morfológico típico dessa hemorragia.


Dentre as características de ressonância magnética mais singulares, destaca-se o dano citotóxico cortical e subcortical observado nas sequências de difusão, provavelmente ligado ao efeito compressivo sobre a drenagem venosa nesses sítios. Mais raramente, pode haver envolvimento da substância branca profunda. A avaliação de sequências de susceptibilidade magnética deve ser feita sempre em conjunto com sequências T2 anatômicas, pois o artefato de blooming gerado pelos produtos de degradação da hemoglobina pode obscurecer a interface entre o córtex e a pia-máter, dificultando a identificação exata do local da hemorragia (intraparenquimatoso versus subpial).


Nos estágios tardios das lesões, o hematoma tende a ser reabsorvido, deixando cavidades císticas subpiais, que podem comunicar diretamente com áreas de encefalomalácia e até mesmo com o sistema ventricular.


Ainda, os autores discutem que, no que tange às etiologias, a hemorragia subpial pode ter várias, ocorrendo em diferentes cenários clínicos, pelo que não se pode considerá-la uma lesão patognomônica, por exemplo, do trauma craniano abusivo. Quanto à evolução dos pacientes, embora os dados sejam escassos, a expectativa é de um prognóstico funcional ruim, em função do dano cortical associado.


Por fim, enfatiza-se a importância do reconhecimento pelo radiologista do padrão típico de apresentação da hemorragia subpial, sobretudo nos exames de ressonância magnética, a fim de que, através de uma maior precisão diagnóstica, seja possível uma estratificação adequada dos pacientes, permitindo não só uma estimativa do prognóstico, mas também futuras pesquisas, que venham a definir melhor o perfil clínico e os desfechos a longo prazo de pacientes que sofrem esse tipo de insulto.

 

Autor:

Dr. André Façanha Barreto

Médico Radiologista – HGF

 

Revisor:

Dr. Francisco Abaeté Chagas Neto 

Médico Radiologista – HGF


Por One Laudos 21 mar., 2024
Acompanhando a cobertura do SXSW, um dos maiores eventos de inovação do mundo, que aconteceu em Austin, nos Estados Unidos, e soube que a Vertex, uma grande companhia da indústria farmacêutica sediada nos EUA e na Inglaterra, recebeu em dezembro licença para iniciar a fase de testes de seus tratamentos de edição genética. Isso é um passo gigante para a Medicina porque esse tipo de tratamento tem o poder de modificar o DNA humano e, com isso, curar doenças até então incuráveis. Entre essas condições, estão as doenças raras, que afetam milhões de pessoas em todo o mundo. O potencial disso é imenso. As doenças raras, muitas vezes negligenciadas pela pesquisa médica devido à sua baixa prevalência, podem ser devastadoras para os pacientes e suas famílias. Essas condições frequentemente têm origem genética e podem afetar qualquer sistema do corpo, resultando em sintomas debilitantes e, em alguns casos, morte prematura. Devido à sua raridade, os tratamentos convencionais muitas vezes não estão disponíveis, deixando os pacientes com poucas opções. É aí que entra a edição genética. Uma das ferramentas mais conhecidas e poderosas nesse campo é a CRISPR-Cas9, que atua como uma espécie de tesoura, cortando sequências específicas de DNA e permitindo a correção de mutações genéticas associadas a doenças. A terapia genética está sendo usada ainda para tratar distúrbios como a anemia falciforme, a fibrose cística, a doença de Huntington e a distrofia muscular de Duchenne, corrigindo os genes defeituosos e restaurando a função celular normal. Não por acaso a notícia da Vertex causou tanto impacto no SXSW. Ela agora tem aprovação regulamentar para curar a anemia falciforme, potencialmente fatal, e a talassemia beta. Juntas, as doenças que geralmente ocorrem por um defeito ou mutação genética, têm o poder de alterar a hemoglobina, proteína responsável por conduzir o oxigênio dentro do corpo humano. Mal posso esperar para ver o que vem por aí. Foto de Warren Umoh na Unsplash
Por One Laudos 13 mar., 2024
Estudos apresentados no ano passado mostram novas funções importantíssimas para o exame de ultrassom, por exemplo. O ultrassom transcraniano se mostrou uma ferramenta promissora para reduzir o risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC) durante a endarterectomia carotídea, uma intervenção cirúrgica realizada para remover o acúmulo de placas de gordura nas artérias carótidas, responsáveis por fornecer sangue ao cérebro. O problema é que durante a cirurgia, placas carotídeas podem se romper, causando embolias e levando a coágulos que podem bloquear vasos sanguíneos cerebrais. Mas o ultrassom transcraniano mitiga esta questão. Ele é usado para fornecer imagens em tempo real do fluxo sanguíneo no cérebro. Durante a endarterectomia carotídea, os cirurgiões podem utilizá-lo para monitorar continuamente a presença de microêmbolos e ajustar a abordagem cirúrgica conforme necessário. Eles evitam, assim, complicações, promovem uma recuperação mais rápida e reduzem as complicações pós-operatórias. Sem contar que esta descoberta destaca a importância da colaboração entre profissionais de diferentes áreas para impulsionar inovações na Medicina. Outra novidade superinteressante é a combinação de ultrassom no pescoço e inteligência artificial, que está abrindo novos horizontes na identificação precoce de riscos cardiovasculares. Os problemas cardiovasculares, incluindo o risco de infarto, continuam sendo uma das principais preocupações de saúde em todo o mundo. Identificar fatores de risco precocemente é crucial para prevenir eventos cardíacos graves e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. O ultrassom no pescoço, também conhecido como ultrassonografia vascular, é uma técnica não invasiva que permite visualizar as artérias carótidas. Essas artérias desempenham um papel vital no fornecimento de sangue ao cérebro. Ao examinarmos as condições dessas artérias, podemos identificar o acúmulo de placas de gordura e a espessura das paredes arteriais, fornecendo informações cruciais sobre o estado da saúde cardiovascular. A principal novidade nessa história, porém, é o uso da inteligência artificial para aprimorar a análise dos dados obtidos por meio do ultrassom. Algoritmos avançados são treinados para identificar padrões sutis que podem indicar riscos cardiovasculares. Essa capacidade de processamento de dados em larga escala permite uma análise mais rápida e precisa, contribuindo para a detecção precoce de condições que poderiam levar a um infarto. No mínimo, promissor, concordam? Foto: Essa imagem foi criada por meio de Inteligência Artificial Texto: Dr. A ugusto Romão
Por One Laudos 07 mar., 2024
O tratamento CAR-T Cell, apontado como uma novidade promissora para a cura de alguns tipos de câncer. É mais um advento importante da Medicina para mitigar essa doença. Eu gosto de pensar que um dia, em breve, a gente poderá olhar para o câncer como hoje olha para a úlcera gástrica. Por muito tempo, pessoas morreram ou precisaram se submeter aos riscos de uma cirurgia e retirar um pedaço do estômago por conta dela. Com o passar dos anos, descobriram que o que a causava era apenas uma bactéria, que podia ser tratada com uma combinação de antibiótico e inibidores de bomba/antiácidos. Já o CAR-T Cell é um tratamento do tipo terapia celular, ou seja, que utiliza as próprias células do sistema imunológico do paciente para combater as células cancerígenas. As células T são extraídas do paciente e modificadas em laboratório para expressar antígenos de receptores quiméricos (que, em inglês, têm a sigla CAR), que as direcionam com precisão a células cancerígenas específicas. Essas células geneticamente modificadas são então reintroduzidas no organismo, transformando o sistema imunológico em uma verdadeira força, personalizada e eficaz, contra o câncer. Os resultados alcançados com as CAR-T cells em cânceres hematológicos, como a leucemia linfoblástica aguda B, o linfoma não-Hodgkin B e o mieloma múltiplo, já são notáveis. No mundo, cerca de 34 mil pacientes já receberam esse tratamento. O bacana foi que o Fantástico acompanhou pessoas em tratamento no Brasil e os primeiros resultados mostram que cerca de 50% dos pacientes permanecem sem a doença depois de 5 anos, e são considerados curados. Em entrevista ao programa, o doutor Vanderson Rocha, professor de Hematologia e Terapia Celular da USP, explicou as etapas do tratamento: “no Brasil temos desde o final do ano passado a possibilidade de coletar células brancas do paciente, enviar para fora do país e, lá, elas são modificadas geneticamente em laboratório durante a duas ou três semanas, e voltam para cá como um medicamento para serem, então, infundidas no paciente para se ligar ao tumor e destruí-los”. Como é possível ver, este é um tratamento altamente personalizado, e é daí que vem também a má notícia: o valor gira em torno de 300 mil euros, então ainda está longe de ser acessível para grande parte da população brasileira. Mas, como sempre acontece com as novidades da Medicina, vamos torcer para que, com o tempo, este valor se torne mais acessível e chegue ao sistema público de saúde. Uma última questão que quero abordar sobre câncer é a importância da prevenção, de fazer os exames de rotina e descobrir o quanto antes. Nada de pensar “não quero procurar para não encontrar”. O melhor é saber logo, tratar e ver começo, meio e fim da doença. Por: Dr. Augusto Romão
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